O jovem rico e sua religiosidade

O jovem rico que procurou Jesus não era apenas detentor de muitos bens, mas, também, sentia-se satisfeito e rico com a sua condição religiosa. Ele procurou Jesus, não como um necessitado da graça de Deus, mas como que buscando aprovação do que ele era e como conduzia a sua vida.

A Bíblia diz que o jovem, sobre o qual podemos ler no Evangelho de Marcos 10.17-30, correu até Jesus, ajoelhou-se, em um ato de religiosidade explícita, e fez a seguinte pergunta: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Jesus conhece o coração do homem, nem sempre uma atitude certa corresponde a verdadeira atitude do coração. Jesus confrontou-o usando o vocativo com o qual o jovem se dirigiu a Ele. Jesus sabia qual a verdadeira intenção do seu coração e respondeu: Por que me chamas bom? Bom só há um que é Deus. Jesus queria que aquele jovem buscasse uma identificação com Ele. Jesus, o Filho de Deus, não estava se considerando bom, como alguém ousaria fazê-lo? Hoje, encontramos muitos nessa condição, que procuram se justificar diante de Deus e se acham bons o suficiente para serem salvos, por não fumar, não beber, não roubar e ter “uma religião”.

Jesus continuou perguntando ao jovem: Sabes os mandamentos? Claro que eu sei, não apenas sei como os tenho guardado, desde muito jovem! Em seu coração, o jovem se considerava justo e, assim, merecedor de um lugar no céu. Ele imaginava que poderia ser salvo pelo seu próprio esforço, pelas obras da lei. Para ele nada mais importava, ele era rico em todos os aspectos, não sentia falta de nada.

Jesus continuou e, apesar de olhar para Ele com muito amor e compaixão, essa foi fatal para revelar a sua verdadeira identidade, “Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. O jovem retirou-se triste, porque tinha muitas propriedades. A riqueza em si mesma não é algo condenável diante de Deus. Ele mesmo abençoou Abraão, Davi, Salomão e tantos outros homens com bens materiais. Mas, por que com esse jovem foi diferente? Jesus teve que tratá-lo no lugar em que ele estava e segundo a disposição do seu coração.   O jovem imaginava que poderia comprar a salvação por sua própria justiça, ele não entendia que a  reconciliação com Deus tinha um preço impagável, que riquezas materiais ou atos de bondade humana nunca seriam suficientes para dar pelo resgate de uma alma humana. Ele, com a  tristeza em renunciar os seus bens, revelou a natureza da sua religião e onde estava  verdadeiramente o seu coração.

Jesus aproveitou esse exemplo para ensinar aos que o seguiam sobre o verdadeiro valor dos bens materiais. Ele não condenava o fato de alguém ser rico ou deixá-lo de ser, seu ministério era sustentado por mulheres ricas, Ele atendia a pobres e ricos, mostrando-lhes o caminho para Deus que é um só, o caminho da renúncia, da negação do eu, de se tomar a própria cruz, de ter tudo como se nada tivesse, não tendo nada por precioso além do próprio Deus. A  riqueza do mundo todo não tem nenhum valor comparado ao valor de uma alma. A  riqueza torna-se uma maldição quando não pode ser renunciada em prol de valores espirituais. A riqueza é prejudicial quando não é subserviente à vontade de Deus e ao exercício da própria fé. A riqueza é nociva quando se torna instrumento de avareza e egoísmo. A riqueza é reprovável quando se torna um ídolo, afastando o homem de Deus.

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus”. Muitos tomam essa Palavra como se fossem bem aventurados  os desprovidos de bens materiais porque deles é o reino dos céus. Não é assim, mas refere-se há um clamor interior, por uma necessidade de dependência de Deus, nunca se sentindo satisfeito ou farto da sua presença. Há muitos ricos pobres e muitos pobres ricos. Há ricos que reconhecem que dependem totalmente da graça e misericórdia de Deus para a salvação e existem muitos pobres que se sentem donos de si mesmos, nunca acham que são necessitados  de Deus, mas se firmam em sua pobreza ou falsa humildade e nos seus próprios atos de justiça para a vida eterna.

“Quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus”. Essa Palavra é bem dura, o seu significado vai muito  além do que  confiar nas riquezas.  Implica no dever de não se ter nada por precioso além dos valores eternos, até a própria vida deve ser considerada sem nenhum valor, diante da preciosidade da  fé e confiança em Deus, diante do que Jesus já conquistou  na cruz. A nossa verdadeira herança  está guardada nas regiões celestiais, onde Cristo já está assentado com Deus. Qualquer coisa que possa se nomear nesta vida, nada é mais precioso do que estar em Cristo e, juntamente com ele, ser herdeiro de Deus !

Sua Bandeira sobre nós é o amor

O Senhor Jesus era judeu, veio para os judeus e usava da cultura judaica para ensiná-los,  por meio de parábolas, figuras, metáforas, para um melhor entendimento de sua mensagem. A ceia do Senhor, o preço pago na cruz, a promessa da sua vinda, a sua ascensão aos céus, tudo tem um fundo comparativo com um noivado judeu, na época de Jesus. Então, no Novo Testamento, a Igreja do Senhor é considerada a noiva de Cristo.

A noiva judia, depois de escolhida, tinha um preço a ser pago pelo seu pretendente ao seu pai. Para isso, era realizada uma cerimônia familiar na qual uma refeição com vinho era servida, e acertadas as cláusulas da aliança a ser firmada, o preço, o pagamento,  as obrigações,  a promessa da volta. Após  o ritual de noivado, o noivo deveria partir para a casa do pai para preparar a câmara nupcial, depois voltaria em um momento inesperado e arrebataria a sua noiva, com a qual tinha uma aliança e já pagara um preço significativo como prova do seu amor.

Figuradamente, a última ceia de Jesus com os seus discípulos corresponde a um ritual ou cerimônia de noivado: os cálices tomados, cada um com sua significação, o  prenúncio da sua morte que seria o preço a ser pago,  a promessa da sua volta. Assim, Jesus depois de cear partiu para o Getsêmani, foi traído por um dos seus discípulos, levado pelos soldados à presença do sumo sacerdote Caifás, escribas e anciãos judeus, onde foi humilhado, cuspido e esbofeteado. Depois, foi conduzido ao governador romano, Pilatos, para ser julgado, sendo acusado injustamente pela multidão e pelos principais da sinagoga judaica. Condenado, apesar de Pilatos não ver nele crime algum, mas para agradar aos seus acusadores, não se posicionou devidamente, e Jesus foi levado à cruz, pagando assim o preço exigido para ter a sua noiva.

O apóstolo Paulo foi bem enfático ao tratar a  Igreja como  a noiva de Cristo, tanto em sua carta aos Efésios 5.22-33 e também aos Coríntios, “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo”. E, nesse sentido, os cristãos autênticos, porque nem todos que se declaram  o são, aguardam o retorno do noivo para buscá-los como prometeu e, para isso, pagou um preço incalculável como prova do seu grande amor.

O amor da noiva é alimentado pela esperança da volta do noivo. Cada vez que a Igreja participa da ceia do Senhor, ela lembra do preço que o noivo pagou por ela e renova a esperança do seu retorno, como prometeu. 1 Co 11.25-26

A figura do noivado e casamento judeu é aplicada na relação entre Jesus e sua Igreja, porque é uma relação instituída por Deus na qual o amor, a pureza, a fidelidade devem ser evidenciados, e o noivo requer da sua noiva um proceder de santidade e comunhão com Ele. Sabemos que o casamento hoje tem sido vulgarizado, mas Deus não o estabeleceu para ser assim. Jesus, apesar de ter partido para a casa do Pai, está presente através do penhor ou selo que nos outorgou até que volte: o Consolador, o Espírito Santo da promessa. Assim, o noivo e a noiva podem alimentar uma relação constante de comunhão e intimidade. Todos os dias eles podem desfrutar de um banquete espiritual sob a bandeira do amor.

A verdadeira Igreja, apesar de perseguida, não está só, ela tem a cooperação do Espírito Santo de Deus que intercede por ela com gemidos inexprimíveis. Ela aguarda o dia em que o seu Senhor virá buscá-la e estará para sempre dentro dos portais eternos sob a sua eterna proteção e livre de qualquer ameaça inimiga, porque o mal já terá sido aniquilado. Eles desfrutarão, por toda a eternidade, um relacionamento ardente de amor e comunhão que  jamais esfriará. Esse é o Senhor a quem servimos, o nosso noivo, que por nós pagou um alto preço, preço de sangue, como prova do seu grande amor.

Como as noivas judias eram arrebatadas e levadas a casa do pai do noivo, seremos levados à casa do Pai, no qual participaremos das bodas de casamento e voltaremos com o nosso amado, não mais noivo, mas esposo, para reinar na Terra, que foi dada aos homens como morada, e reinaremos com Ele por mil anos! E, depois disso, por toda a eternidade no Novo Céu e na Nova Terra. Por isso, somos o povo mais feliz da Terra! Se escolhemos a sabedoria, valorizamos o privilégio do que somos em Cristo e não o trocamos por migalhas que tentam nos desviar do Caminho.
“Leva-me à sala do banquete e sua bandeira sobre nós é o amor”.